terça-feira, 9 de junho de 2015

Urubu

Apesar de seus sapatos caros e cabelos extrovertidos,
Havia solidão nas suas coxas gordas
E miséria em seus olhos tediosamente castanho-escuros.
As costas mal arqueadas faziam parecer seus seios
Dois pêndulos, carregando em si todo o desgosto
Pelos dias que a precediam, e também pelos que viriam a surgir.
Não tinha passos leves nem ar taciturno.
Parecia ser essencialmente a incoerência,
Vestida sistematicamente em sua camiseta preta e calça jeans,
Carregando no mesmo bolso as mesmas coisas
E no peito as mesmas mágoas fazia anos.
Não era possível prever o que a empurrava ladeira acima,
Debaixo de sol quente ou chuva fina.
Não fazia sentido aquele ser, quando não estivesse em sua cama.
Era ela, ali, humana como qualquer outra,
Infeliz como qualquer paralelepípedo daquela rua
- já fazia setenta e oito meses, talvez mais, que os conhecia.
E o que haveria de incomum ali naquela pessoa,
Senão a própria tendência do homem a permanecer de pé?
Mesmo curvando os ombros e aceitando a perda, todos o fariam.
E os que não fizessem, seriam certamente mal julgados.
E em seguida, esquecidos. Como a todo resto. Como a todos nós.

Nenhum comentário:

Postar um comentário